Não é novidade que basta chover para que os semáforos de São Paulo deixem de funcionar. Diante dessa situação e do engarrafamento que se formava, um cidadão comum, Caco de Castro, resolveu fazer o trabalho de um agente de trânsito, organizando a passagem de carros e pedestres. (Veja vídeo abaixo)
Caco ficou mais de 1 hora no cruzamento da Rua Vergueiro com a Rua do Paraíso, Zona Sul de São Paulo, sem a presença ou ajuda da Companhia de Engenharia de Tráfego. Em nota ao Portal SWU, a CET desaprovou a atitude. “Por não ter conhecimentos específicos, eles poderiam ter agravado a situação provocando um acidente, além de colocar suas próprias vidas em risco.”
O Portal SWU bateu um papo com o Caco sobre a sua experiência como agente de trânsito por um dia. Confira:
Você tem treinamento para controlar o trânsito?
Nenhum. Sei que corri o risco de me acidentar e até de causar um acidente. No início, como eu estava tenso, eu fiquei bem atento e ia sincronizando os meus sinais para os carros passarem de acordo com outro semáforo mais a frente que estava funcionando. Depois, eu fui meio que por instinto e começou a ficar automático.
Já tinha pensado em fazer um vídeo sobre essa situação ou a ideia surgiu naquela hora?
Nunca tinha pensando nisso. Era sexta-feira, cinco da tarde, queria descansar curtir meu fim de semana. Mas choveu naquele dia e os semáforos não estavam funcionando, acontece sempre. Só que havia duas ambulâncias que não conseguiam passar por conta do trânsito desorganizado. Foi nessa hora que eu pensei que deveria fazer alguma coisa. Então, eu parei o carro, desci e comecei a ajudar. Liguei para dois amigos que estavam no trabalho, ali por perto, e foram me ajudar. Um filmou e o outro me ajudou a fazer o trabalho de um agente de trânsito.
E por que filmar? A intenção era ficar “famoso”, viralizar o vídeo na internet?
Todo mundo quer se promover de alguma forma, eu entendo isso. Mas eu já tenho a minha resposta na ponta da língua. Eu quis filmar para ver se há um despertar nas pessoas de coletividade, solidariedade. Não foi para ficar famoso, tanto é que não coloquei meu nome nem profissão (Caco é apresentador da Mix Tv). Quis mesmo dar um toque na galera, do tipo, “olha, você pode fazer algo para mudar a realidade da sua cidade, para melhorar o que te deixa insatisfeito”. Chega de empurrar o problema para debaixo do tapete.
Serviu mais como um ato de solidariedade ou um protesto?
Acho que os dois. Quis abrir os olhos das pessoas, mostrar que a gente paga nossos impostos e que deveríamos cobrar mais dos nossos governantes. Que as promessas de campanha se cumpram, que os nossos direitos sejam assegurados. Mas fiquei feliz de ver que eu puder fazer algo pelas pessoas, que pude ajudar.
No vídeo você faz um apelo ao novo prefeito. Em quem você votou na última eleição?
Não voto em São Paulo, sou de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Moro há quase 10 anos aqui. Acho que o Fernando Haddad é um cara jovem, tem aberto o diálogo para a questão da mobilidade urbana, por exemplo. É cedo para avaliar a atual gestão, mas acho que ele tem as ferramentas para fazer um bom governo.
Como foi a reação dos pedestres e motoristas enquanto você tentava organizar o trânsito?
A maioria das pessoas aprovou. Apenas uma pequena parcela, tipo uns 5% dos motoristas, ficou irritada, xingaram e uns até ameaçaram a acelerar o carro. Mas foi só. A repercussão tem sido boa. O mais bacana é perceber que as pessoas estão dispostas a mudar. Elas querem que a cidade melhore, que a sociedade melhore. Mas falta alguém começar. Os comentários no Youtube foram todos favoráveis.
Mas a CET desaprova a sua atitude.
Primeiro uma viatura da Polícia Militar passou e depois passou um carro da CET também. Nenhum parou para ajudar. Os PMs, inclusive, riram. Não sei se por deboche ou por conta da situação inusitada. Sei que não é da alçada deles, mas falta atitude. Só porque não é sua função, você não pode ajudar? Sobre a CET, eles viram e não fizeram o trabalho deles. Eu até cheguei a receber depois uma mensagem de um agente, que pediu para não ser identificado. Ele tentou justificar o fato da CET não ter parado, que eles poderiam estar se encaminhando para outra ocorrência, mas que deveriam ter usado o rádio e chamado reforços. Ele também me disse que foi uma ação nobre, mas nada aconselhável.