Chico Science, músico que cantou por diversas vezes as mazelas do país, compôs sobre a desigualdade social no Brasil na canção “A Cidade”, do disco Da Lama Ao Caos – dois elementos recorrentes nas composições do pernambucano. O forte refrão que diz “a cidade não para, cidade só cresce, o de cima sobe e o de baixo desce” evidencia o crescente fosso entre ricos e pobres e a rotina confusa de uma grande cidade. Recife era, geralmente, a “musa inspiradora” de Chico. Mas os problemas descritos nesse clássico manguebeat se encaixam perfeitamente em muitas outras cidades no planeta.
A Cidade – Chico Science
O sol nasce e ilumina
As pedras evoluídas
Que cresceram com a força
De pedreiros suicidas
Cavaleiros circulam
Vigiando as pessoas
Não importa se são ruins
Nem importa se são boas
E a cidade se apresenta
Centro das ambições
Para mendigos ou ricos
E outras armações
Coletivos, automóveis,
Motos e metrôs
Trabalhadores, patrões,
Policiais, camelôs
A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade se encontra
Prostituída
Por aqueles que a usaram
Em busca de uma saída
Ilusora de pessoas
De outros lugares,
A cidade e sua fama
Vai além dos mares
E no meio da esperteza
Internacional
A cidade até que não está tão mal
E a situação sempre mais ou menos
Sempre uns com mais e outros com menos
A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce
Eu vou fazer uma embolada,
Um samba, um maracatu
Tudo bem envenenado
Bom pra mim e bom pra tu
Pra gente sair da lama e enfrentar os urubus
Num dia de sol, Recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior