Xaveco, comércio e até cachorro podem ser encontrados em passeio de bike na Avenida Paulista

A concentração começa na Praça do Ciclista

Se eu te contar que em um simples rolê de bicicleta dá pra você arrumar namorado, passear com seu cachorro e equipar sua magrela, você acreditaria? Bom, é pra acreditar!

Mas, de cara, vai um conselho de “bicicleteira” de primeira viagem: chegue cedo. No Bicicletada, um dos principais grupos da cidade, a concentração do passeio acontece por volta das 18 horas, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. E é chegando nesse horário que você se enturma, descobre as melhores histórias, pesca uma ou outra curiosidade dos bikers “das antigas” e até compra aquele item que está faltando na sua bike.

No Bicicletada tem de tudo: diversão, protesto, gente que vai para fazer amigos, ou que quer apenas dar um rolê diferente com o cachorro. Paula Leite, que trabalha como Relações Públicas, sempre pedala acompanhada de Freud, um basset que é seu

companheiro há 9 anos. “Ele vira o centro das

Tem quem aproveite até para descolar uma graninha durante o passeio

atenções aqui”. Mas, se você pensa que são só os ciclistas que amolecem com a presença do bichinho, enganou-se. “Acredita que os motoristas me respeitam muito mais quando ele está na cesta da bicicleta pedalando comigo?”, disse Paula.

Há quem esteja no Bicicletada só pelo prazer de não se preocupar com o trânsito. A vibe de pedalar na avenida mais importante de São Paulo com segurança é o que atrai muita gente no passeio noturno. Os ciclistas mais experientes ficam no começo e no fim do comboio para auxiliar os demais. Assim, se você optar por ficar no meio do grupo, a possibilidade de um carro te atingir é quase zero. São eles também que ditam o ritmo da pedalada, definem o caminho e fecham os cruzamentos. O grupo do último dia 30 de março tinha cerca de 200 pessoas.

Xaveco em duas rodas

Amor que nasce no pedal vem pra ficar. “Conheci o meu namorado numa Bicicletada em 2010”, lembra Silvia Oliveira, professora de educação física. A paquera, que começou durante a pedalada, continuou 30 dias depois. “Ele esperou a outra Bicicletada, no outro mês, pra me ver de novo”, conta. William e Silvia, desde então, pedalam juntos em todas as Bicicletadas que participam.

 

A bike foi o cupido dos primos Roberto e Claudia, que hoje são casados

Não foi exatamente o passeio noturno que juntou Roberto Coelho, 56 anos, e sua prima, Claudia Miessa Coelho, mas a magrela tem importância nessa história. Hoje casados, os pombinhos se apaixonaram quando ela foi ao lançamento do livro que o primo escreveu sobre como a bicicleta ajuda a amenizar o Mal de Parkinson, doença diagnosticada em Roberto há 36 anos. “Elas, a bike e a Claudia, me devolveram a vontade de viver”, disse ele, pouco antes seguir o grupo que começava a sair pela avenida.

Pedindo arrego

Uma Bicicletada nunca é igual a outra. Segundo o veterano Thiago Benicchio, que está no passeio desde 2004, o percurso é sempre definido em cima da hora, meio de supetão. Na noite do dia 30, o rolê passou pelas avenidas Paulista, Vergueiro, Liberdade, Praça da Sé, Avenida Ipiranga, até chegar ao Minhocão.

Com o elevado fechado para

Sério, morri. Se estiver sedentário, não faça o caminho completo

carros, alguns bikers aproveitaram para pedalar mais pesado, enquanto outros avisavam que tinham “luzinha e faixas refletoras pra vender, galera!”. É isso mesmo, até comércio rola num passeio de bike! Entramos na Avenida Francisco Matarazzo, seguimos pela Sumaré, Dr. Arnaldo, Consolação e, finalmente, (porque eu não aguentava mais), avenida Paulista de novo, a parada final. Foram 2 horas e meia, e cerca de 25 quilômetros pedalados. E antes que você se pergunte, sim, sim, eu fui até o fim!

Mas vai aqui mais uma dica para quem, como eu, não está acostumado a grandes rolês: apesar do clima fresco da noite e o ritmo moderado do passeio, não há como não chegar cansado – uns bem mais que outros, vale dizer. Assim, outra opção é você ir até metade do caminho e, de lá, buscar sua rota de partida.

6 x 72

Alguns adultos (e eu me incluo nessa) levaram uma bela “surra” de um garotinho de apenas 6 anos. Louco por bike, Gustavo Carrijo pedalou como gente grande. Enquanto eu procurava por um balão de oxigênio, o pimpolho completava o percurso com a mesma animação da largada. “Ó, sem rodinha”, mostrou ele, me

 

Respeite o seu José, faz favor!

humilhando. “Parei de usar no Carnaval e consegui equilibrar o tempo todo!”, bradou orgulhoso o garotinho.

Tão admirável quanto o pequeno é o aposentado José Gonçalves, de 72 anos. Com o mesmo vigor de Gustavo, o veterano pedala “desde moleque”, nunca teve carro (e nem vai ter, deixou bem claro) e participa da Bicicletada para protestar. “É a minha forma de pressionar. Eu quero ser reconhecido, visto e respeitado”, avisou.

Se você vir uma Bicicletada por aí, lembre-se do recado do seu José, combinado?

Caroll Almeida

Abaixo, mais fotos da Bicicletada do dia 30 de março:

 

 

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