Quem anda de táxi em São Paulo pode encontrar uma pequena biblioteca dentro dos carros. É o Bibliotaxi, projeto do Instituto Mobilidade Verde e que pretende incentivar a leitura e o compartilhamento de livros entre os passageiros.
“Nosso propósito foi estimular o processo colaborativo na comunidade de moradores da Vila Madalena, bairro onde o projeto começou, através da doação livros”, conta Lincoln Paiva, diretor do Instituto Mobilidade Verde. Ele explica que o objetivo não é só fazer o passageiro ler durante a corrida, e sim compartilhar conhecimento. “O interessante não é só ler no trânsito, a ideia é que a pessoa leve o livro para casa, leia e repasse para outra pessoa.”
Os livros podem ser encontrados nos carros conveniados ao Easy Taxi - em média, há 15 livros em cada veículo. A pessoa interessada por algum dos livros disponíveis (que são marcados com um carimbo) registra seu nome em um caderno e podem, se quiser, levar o livro para casa.
Uma vez lido, a pessoa decide o que fará com a obra. Ela pode devolver o livro em um outro táxi participante, doar o livro a um amigo ou ainda pode entregá-lo num ponto de devolução. Existem dois desses pontos: um na redação do VilaMundo (R. Belmiro Braga, 146, Vila Madalena), outro na do Catraca Livre (R. Gonçalo Afonso, 55, Vila Madalena), ambos apoiadores e parceiros do projeto.
Qualquer leitura vale
Só em 2012, o Instituto Mobilidade Verde distribuiu 115 mil livros para o projeto, mas qualquer pessoa pode ajudar doando mais livros nos pontos de devolução. Não há nenhum tipo de restrição a autor, gênero literário ou número de páginas. “Só pedimos que ele esteja em bom estado”, explica Lincoln.
Portanto, é possível encontrar diversos títulos dentro dos “bibliotaxis”: de Alquimista (Paulo Coelho(, a Ditadura Derrotada (Elio Gaspari), passando ainda por obras estrangeiras como 100 escovadas antes de ir para cama (Melissa Panarella), e clássicos como Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis).
Lincoln diz que o projeto teve boa repercussão, tanto entre taxistas quanto entre os passageiros, mas que muitos ainda se surpreendem com o fato do livro ser gratuito. “Tem um vídeo no site que mostra a reação do passageiro e como o taxista aborda o assunto com ele. O projeto demonstra que as pessoas não estão acostumadas com gentileza, muitas não acreditam que o livro é gratuito e que podem levar para casa. Levam um susto e desconfiam, mas acabam entendendo o projeto”, conta.
Além do livro
Lincoln acredita que o projeto pode também aproximar as pessoas, fazer com que elas conversem e descubram afinidades, como local de trabalho e ondem se divertem. A ideia é que, a partir de projetos como o Bibliotaxi e tantos outros projetos de compartilhamento, as pessoas passem a se sentir em uma comunidade.
“No futuro, imagino que as pessoas possam deixar um livro naturalmente em qualquer táxi”, acredita. Lincoln também espera pelo dia em que as pessoas abram os olhos para a mobilidade urbana. “Nós fizemos uma pesquisa que mostra que a maioria das pessoas está trabalhando entre 2,5 km e 3 km de casa. Se todas essas pessoas trocassem caronas, por exemplo, a gente teria outra cidade, mais voltada para as relações pessoais”, conclui.