Facundo Guerra: “Muita gente nasceu e morreu por causa do Vegas”

FACUNDO GUERRA, empresário dono do Lions e do Yatch Club

Como e por que você decidiu virar um empresário da noite?

Facundo Guerra:
Foi meio por acidente. Eu estava bem empregado, gostava do meu emprego, tinha um salário alto, eu era feliz, saca? Até que empresa fechou no Brasil e me demitiu – e eu achei que não ia, nunca, achar nada mais legal que aquilo. Depois disso virei sócio numa marca de roupa, até que abri o Vegas, meio por acidente. Tinham uns meninos que tinham um clube ali no centro de São Paulo, o Xingu, eu entrei de sócio nesse clube, mas não deu muito certo. E nessa, apareceu o Tibira, propondo de abrirmos uma casa nova ali na Augusta, que foi o Vegas. Isso foi em 2005, e o engraçado é que o Vegas era meu último tiro, foi no desespero, era o restinho de grana que eu tinha. Se eu não tivesse tão desesperado, não teria topado abrir o Vegas. E SE HOJE EU SOU BEM SUCEDIDO É PORQUE EU JÁ ME FODI VÁRIAS VEZES. Minha história como empresário não é uma linha evolutiva e feliz.

Que análise você faz do Baixo Augusta e da região central como um todo nesses últimos 10 anos? O que mudou?

FG: Eu frequentava o centro já na década de 90, mas ele sempre foi burocratizado, um território da prefeitura, que tinha eventos mais pontuais. De um tempo pra cá, com o Vegas, e outras coisas que começaram a abrir lá, festas como Voodoohop e tal, as pessoas mudaram a relação com o centro, numa ideia de se recuperar um certo orgulho dele, um certo orgulho de dizer que é paulistano. Acho que estamos resgatando isso pelo viés da noite. Algo como, “SE NÃO TEMOS PAISAGEM NATURAL, TEMOS PAISAGEM HUMANA”. Tô muito feliz com o momento que São Paulo está vivendo, e tudo isso converge para o centro da cidade.

Neste ramo, nem tudo, e nem sempre, dá lucro. Se não é a grana, o que te motiva a seguir?

FG: Tem algumas coisas que transcendem a grana: fama, vaidade, vontade de imortalidade, minha filha ter orgulho de mim. Porque “grana” qualquer novo rico idiota pode ter. Grana pra mim é viabilizar coisas, como abrir e reformar um negócio como o Riviera (tradicional bar na esquina da Paulista com a Consolação), ou um Joia (Cine Joia), isso me dá um puta dum orgulho! Até porque essas coisas ficam pra cidade, podem viver além de mim. Isso entra na vida das pessoas, MUITA GENTE NASCEU E MORREU POR CAUSA DO VEGAS. Lidar com essa brutalidade da vida é muito mais importante que dinheiro.

Quais são hoje os maiores pontos turísticos da cidade?

FG: São Paulo não tem ponto turístico. Não é vendo um monumento às bandeiras ou o MASP que a pessoa vai entender a cidade. E esse é o grande lance de São Paulo, o grande diferencial: é a única grande cidade do mundo que não tem ponto turístico. O PONTO TURÍSTICO DE SÃO PAULO SÃO AS PESSOAS, SÃO AS RELAÇÕES. Na rua Augusta, por exemplo, o cara vai encontrar desde uma Ferrari Maserati até um puteiro, ou um teatro. Acho que a noite e as casas noturnas, os restaurantes, bares, festas, intervenções e pessoas cumprem esse papel e se aproximam muito mais dessa ideia de “pontos turísticos”.

SP completará 500 anos em 2054. Como você imagina o centro da cidade em 40 anos?

FG: Podemos nos espelhar um pouco no que rolou em outras cidades do mundo que tomaram o centro para si. ACHO QUE EM 40 ANOS O CENTRO DE SP SERÁ OCUPADO PELA ELITE. Terá uma infra estrutura com mais shopping centers, centros culturais, recuperando esta vocação para ser o grande pólo cultural da cidade.

 

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